Cette fois rien ne va plus ! Les sardines désertent aussi les côtes portugaises et la réduction des quotas n'y change rien…
Au Portugal, on consomme 13 sardines par seconde. Soit une bonne dose de protéines, de lipides et d’oligoéléments. Et une raréfaction de ces poissons au large des lusitaniennes.
Le quotidien lisboète Público lancé en mars 1990 s’est imposé dans la grisaille de la presse portugaise par son originalité et sa modernité. Il fait la part belle aux infographies. Celle-ci, publiée le 31 mai 2015, a été conçue et réalisée par Cátia Mendonça et Ricardo Garcia. Elle s’inscrivait dans un grand dossier consacré à la raréfaction des sardines : “13 sardines par seconde, cela semble astronomique, mais en réalité ce chiffre n’a jamais été aussi faible. Ces poissons disparaissent des côtes lusitaniennes”, alertait alors le journal. Publié le 20/07/2015 - 09:05
Aujourd'hui, sous le titre Sardinexit, c'est un cri d'alerte qui est lancé par Gonçalo Calado : a sardinha de S. João já não pinga no pão, la sardine de S. João plus maintenant s'égoutte dans le pain ! dixit le dicton populaire joliment traduit par Google ! En résumé, il s'agit de savoir de combien chaque portugais va devoir réduire sa consommation de sardines dans les années à venir…
Gonçalo Calado |
Ao arrepio do ditado popular, a sardinha de S. João já não pinga no pão. Queixam-se os foliões das festas populares que a sardinha está magra por essa altura. Ao que parece está a engordar mais tarde, mas é justamente em Junho que o recurso vale mais dinheiro. Agora, o ICES – Conselho Internacional para a Exploração dos Mares emitiu uma recomendação de captura para 2016 de pouco menos de 1600 toneladas de sardinha para a região das águas ibéricas atlânticas e mar cantábrico. Se Portugal ficar com dois terços deste valor, serão 100 gramas de sardinha por cada português naquele ano. Uma tragédia, sem dúvida.
Mas mais trágica ainda é a resposta que se está a preparar. Se entendo as reacções emotivas das organizações do sector, profundamente preocupadas com o seu futuro, repugna-me a resposta imediata dos decisores, que rapidamente vieram dizer que a recomendação é “apenas uma hipótese de trabalho”, “excessiva” e que está “tudo em aberto”. Tenho mesmo vergonha. Ninguém tem a coragem de assumir que este stock de sardinha está há anos a ser sobreexplorado. Põe-se continuamente água na fervura para que a bomba não nos rebente nas mãos. Não vale a pena empurrar mais com a barriga, e apelar à responsabilidade social dos senhores do ICES. É justamente por responsabilidade social que estas recomendações são feitas, pois não há responsabilidade social sem uma gestão sustentável dos recursos naturais.
A New Economics Foundation, um think-tank sediado no Reino Unido, publicou em 2012 um estudo sobre quanto estamos a perder em cada ano por estarmos a permitir a sobrepesca, ou ao contrário, quanto ganharíamos todos se tivéssemos a coragem de parar temporariamente a pesca desses recursos até que recuperassem para uma pesca sustentável. A nossa sardinha consta deste estudo. A um governo responsável competir-lhe-á encontrar soluções de apoio dignas para o sector enquanto está parado, operacionalizando diferentes linhas de financiamento para o efeito, e aproveitando o período de pausa para redimensionar o sector à exploração sustentável do stock depois de recuperado.
Um fecho temporário da pesca, o “sardinexit” do título, dá sardinhas, dá dinheiro à economia a médio-longo prazo, mas infelizmente não dá votos. De facto, não conheço nenhum político que tenha a coragem de o propor, embora sabendo que é esse o caminho e que quanto mais tarde, pior. Resta-nos que o stock entre em colapso e que depois demore muito mais tempo a recuperar, com perdas económicas e sociais muito maiores, que outros políticos terão que gerir como puderem. Triste sina a nossa.
Biólogo (bagoncas@gmail.com)
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